Ser jovem é angustiante
* Deputado Efraim Filho
Inicio este texto com uma frase da recente entrevista do líder dos protestos estudantis que colocaram a juventude em fogo na Paris de 1968, Daniel Cohn-Benditt: “É angustiante ser jovem atualmente”. É emblemático que hoje, aos 63 anos, o parlamentar europeu Daniel confesse estar preocupado com a burocracia do primeiro contrato dos jovens franceses, que emperra a oportunidade de emprego dos mais novos. Ilustração francesa bem aplicada à realidade brasileira.
Agora, sim, para não parecer retórica de deputado de oposição, vamos aos números oficiais do governo brasileiro. O Ipea divulgou esta semana que o desemprego entre jovens é 3,5 vezes maior do que entre os adultos. Assustadoramente, 46,6 % dos jovens entre 15 a 24 anos estariam desempregados. Com este índice, o Brasil lidera o ranking de maior proporção de jovens entre os desempregados em uma lista de dez países (que também inclui a França). De acordo com o próprio Ipea, uma das hipóteses para a dificuldade do jovem ingressar no mercado de trabalho brasileiro é o preconceito das empresas em relação à falta de experiência.
Se é angustiante ser jovem lá na França, imagine aqui no Brasil, onde o gargalo social começa pela Educação ou pela falta do acesso universal ao ensino de qualidade. Vamos pressupor que qualquer empresário do mundo prefira, é claro, um funcionário experiente ao candidato que se apresenta com pouca bagagem de vida. Vamos também imaginar que o contrapeso ou a vantagem que o jovem apresenta seja justamente o conhecimento de novas informações e tecnologias. Dependeríamos, então, da solução de questões burocráticas e de encaminhamento de políticas fiscais que facilitassem a vida dos empresários desejosos de contratarem jovens. Parece simples, certo? Não é esta, porém, a situação do Brasil.
Como presidente de juventude partidária, atravesso o Brasil de ponta a ponta e escuto sempre a mesma reclamação, seja nas ruas de São Paulo ou no interior da Paraíba. As políticas públicas que deveriam capacitar o jovem têm uma lacuna entre a informação repassada nos cursos e a vida real, que se desenrola nas fábricas e empresas. Falta conexão entre a matéria ofertada e a necessidade do mercado. Não é à toa que naufragou o Primeiro Emprego, o programa do Governo Federal, enterrado por iniciativa própria, porque não conseguia convencer patrões a contratar mão de obra jovem. E aqui um detalhe: outro erro era justamente a burocratização do primeiro contrato, que amarrava pés e mãos dos empresários em questões administrativas.
Como não existe antidepressivo químico para situação de angústia social, ficam duas sugestões. Que o governo reveja a eficácia do Pró-Jovem, através de uma análise severa dos resultados, e reformule os cursos que hoje geram renda com bolsa para jovens (sempre as bolsas), mas que efetivamente não têm ensinado a pescar. Programas assistencialistas, com impacto eleitoral claro, mas incapazes de transformar a realidade desses jovens desempregados. Que apresente, de uma vez por todas, o projeto de Reforma Universitária, porque desemprego, todos sabem, atinge também quem acaba de sair da faculdade. Escolas e Universidades não podem ser simplesmente fábricas de canudo de papel, têm que preparar a inserção do jovem num mercado de trabalho cada dia mais acirrado e competitivo. E daí, sobra angústia para todos os lados.
* Efraim Filho, 29 anos, é deputado federal pelos Democratas da Paraíba e presidente da Juventude Democratas nacional.
